domingo, 24 de outubro de 2010

Se ela pedisse

Queria ter morrido na volta da viagem. Aliás, queria ter morrido na ida mesmo. Morreria feliz com o trágico fim de quem foi embora antes da hora. E seria lembrado pra sempre como algo incompleto. Como todas as possibilidades que não tentou.Queria ter corrido pros braços dela. Queria tanto e se manteve tão parado.

sábado, 23 de outubro de 2010

E o pandeiro dançou

Leu uma por uma. Apagou uma por uma. Antes fossem várias mulheres. Mas era uma só que lhe causara tanto ardor. Bebeu todas as cervejas que pôde. Não havia dinheiro. Não havia mulher. Não havia corpo quente lado a lado. Havia distância. Havia vazio. Havia espaço de sobra para beber mais.
Coisa feia um homem tão grande tão choramingão!
Quis morrer. Quis matar. Quis quebrar tudo. Ficou intácto imóvel morto no colchão. Enquanto suas lágrimas rolavam, tentava escutar sua respiração.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

I do this everyday

Não sabia se era mentira ou verdade. Sabia que podia construir o que quisesse. A ilusão é uma faca afiada. Abre o peito. Corta. Dói. Eu estou com fome. Posso sentir minhas vísceras grunindo como um cachorro na rua. Se volto a pensar na ilusão, construo uma montanha comestível. Tic-tac. Continuo com fome. Fora disso, havia a realidade. A dúvida e mais dúvida, ao invés do simples desejo. Ouvi dizer que quando você não sabe onde ir, não está perdido. Qualquer ponto é uma parada. Qualquer palavra é um sim. Qualquer coisa oposta à outra ruim é o que existe. Eu odeio a faca da ilusão.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Tanto querer

Gosto sim. Gosto com gôsto de gostar tanto assim. Gosto em picos. Me drogo. Entorpeço. O que não me falta, é inspiração. Vírgula na frente, atrás, antes ou depois, tanto faz. Gosto perto. Tenho raiva por de longe, gostar também. Você entenderia se eu te dissesse que gosto sem parar em intervalos distoantes ? Eu te amo minha princesa. Em cada vascilar da nossa breve caminhada, construo formas diferentes de te amar.



Disse pra si mesmo ao pensar nela.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Músicas sem fim

Não era pra ser assim. Não era pra ser nada. Nunca é! Mas alguém esqueceu de avisá-la. E ela esqueceu de perceber. Então deixa pra lá. Deixa tudo pra lá. Pra lá, lá em cima, entulhando, um monte de deixa pra lá amontoado. Tô de saco cheio. Tô partida. Tô tanta coisa que tô até com preguiça. Sucumbiu-se por uma vontade extraordinária de chorar. Eram dez da manhã e o trabalho lhe exigia um rosto perfeito. Morena, bonita, jovem, um tanto sedentária. Atriz, modelo, mulher. Eram tantas dentro dela, todas com uma vontade exagerada de chorar. Recorreu à tática de pensar em outra. Tudo triste. Do outro lado do país, outras estavam tristes. Como ela podia sustentar aquele rosto perfeito de jovem se a vida lhe parecia cair ? Caiam os olhos, a boca, o nariz, os cabelos, a bunda, os peitos. Caía o valor do real, as possibilidades de felicidade, o menino na bicicleta. Caíam os cometas, as estrelas, os planetas, a chuva, as pétalas, as loucas, os loucos, os insetos, os pães com manteiga, os prédios.

Horas depois. Quedas a parte. Ainda o choro. Ainda a necessidade. Graças ao mundo capitalista, seguiu adiante naquela manhã.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Procurei alguma frase que pudesse dar sentido à minha busca

Sem idade se descobre a vida. Em perdas. Perde-se um pedaço. Procura-se outro pra encaixar. Fumo um cigarro pra espantar o choro. Vontade de dissolver tanto passado. Vontade de acertar. Sempre achei tanto que calei, mas falei demais. Se algumas palavras pudessem ser ditas, o passado não ficaria tão para trás. E se o passado não ficasse tão para trás explicaria porque sempre se faz tão presente.

Cospir

Então, como ele conseguiria diferenciar quem ela era com os outros e quem ela parecia ser com ele. Ou para ele. Para ele, ela sempre lhe pareceu demais. Mas, sabia que demais era uma ausência.

O que eu quero ? Sossego!

Titubiou. Titubiou na linha da modernidade. Ah, convenhamos, até a modernidade tem barreiras. Tentou. Tentou e conseguiu. Conseguiu em partes; as outras partes se despedaçaram ao tentar. Se ele dissesse todas as linhas que têm lido, não seriam suficientes para contá-la de sua experiência no caso. Talvez não importasse à ela tal fato, mas o que ela não sabia era que tudo não passava de uma questão de bom senso. Ele estava certo. Ainda que um tanto esfrangalhado. Ela estava segura.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Contigo en la distancia

Deitei sozinha. Cheiro de homem na pele. Cheiro de ninguém. Algumas lágrimas pensaram em cair. Lamentosas como uma madalena arrependida. Daçaram pelos olhos e ficaram por lá. Eu também fiquei por lá. O que está aqui, confuso pequeno tardio viscoso, são subsequências do que tocou. Há uma cama vazia, uma noite vazia, uma viagem vazia. Há o medo e a vontade de se permitir. Há o silêncio e o fim da frase. E o fim da fase.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Morena dos olhos d'água

Dissolvi o amor como uma aspirina. Gosto de beber as bolhas só para vê-las chegar ao fim. Encaixei peça por peça, mas não vi. Sorri, e a música ainda estava tocando.

sábado, 2 de outubro de 2010

Terra natal

Pensou que talvez sua mãe tivesse mesmo razão. Ela estava procurando, incessantemente, o que nem sabia. Talvez estivesse tudo embaixo dos seus olhos, dedos. Talvez a resposta estivesse na ponta do lápis. Ela, uma jovem lésbica, aspirante a tantas vidas, buscava questionavelmente, o brilho do sucesso.Sua história, quem sabe, até se pareça com alguém do cinema. Apesar de, ela não se assemelhar a nenhuma atriz, e de, ela própria, não se sentir parecida com mais ninguém. O que todos sabiam que leriam nas próximas linhas era o filme que rodava em sua mente. Torcia para que todos gostassem e aplaudissem de pé. Quem haveria de saber o que aconteceria à ela, se, nem ela mesma nunca quis saber.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

P.S.

Estou partindo. Retornando. Origens. Quero te levar comigo. Quero te levar. Comigo.