segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Músicas sem fim

Não era pra ser assim. Não era pra ser nada. Nunca é! Mas alguém esqueceu de avisá-la. E ela esqueceu de perceber. Então deixa pra lá. Deixa tudo pra lá. Pra lá, lá em cima, entulhando, um monte de deixa pra lá amontoado. Tô de saco cheio. Tô partida. Tô tanta coisa que tô até com preguiça. Sucumbiu-se por uma vontade extraordinária de chorar. Eram dez da manhã e o trabalho lhe exigia um rosto perfeito. Morena, bonita, jovem, um tanto sedentária. Atriz, modelo, mulher. Eram tantas dentro dela, todas com uma vontade exagerada de chorar. Recorreu à tática de pensar em outra. Tudo triste. Do outro lado do país, outras estavam tristes. Como ela podia sustentar aquele rosto perfeito de jovem se a vida lhe parecia cair ? Caiam os olhos, a boca, o nariz, os cabelos, a bunda, os peitos. Caía o valor do real, as possibilidades de felicidade, o menino na bicicleta. Caíam os cometas, as estrelas, os planetas, a chuva, as pétalas, as loucas, os loucos, os insetos, os pães com manteiga, os prédios.

Horas depois. Quedas a parte. Ainda o choro. Ainda a necessidade. Graças ao mundo capitalista, seguiu adiante naquela manhã.

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