domingo, 26 de dezembro de 2010

Da minha vida.

Norma pensou que para trair primeiro precisava conhecer a fundo o traído. Acima de tudo pelas desculpas. Desculpas podem se tornar mentiras, que logo em seguida, rapidamente, serão descobertas. E descobrir mentiras não é, nem de longe, uma surpresa agradável. Se perguntou se a sua vizinha conhecia bem o marido. Sabia que a cada quinze dias outro carro parava naquela porta. E concluiu que naquele intenso relacionamento havia, no mínimo, um pouco de conhecimento mútuo, sim. E de traição. O segundo passo do conhecer é a confiança. Ela sabia que algo de espontâneo e incontrolável deveria partir do traído. Ria, quando pensava nessa palavra. Traído. Parecia dolorosa. Vítima. Pequeno isso de pensar na santidade das pessoas para nos maltratar um pouco. Tratou de continuar o raciocínio. Sabia que confiança era uma questão particular, até mesmo com tanto conhecimento, mas também sabia que podia alimentar. Então pensou em todos os 'te amo' verdadeiros que facilmente lhe ajudariam. Norma entendia a possibilidade do amor e da paixão simultâneos. Não era uma briga interna. Nem um momento confuso. Se considerava um pouco estranha. Mas considerava mais estranho ainda os limites que nunca seriam ultrapassados. Aquela tarde pronta lhe servia como sede de combate. Planejar era um cuidado advindo do amor. Amava a um. Amava a outro. Amava a si. Amava tanto a tudo que precisava ser cautelosa. Se alguma coisa desse errado ela sabia que nem o amor a um, nem o amor ao outro, nem o amor a si seriam suficientes para mantê-la em pé. Quem sabe Norma nem continuasse com aquilo. Mas ela precisava planejar.

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