quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O Furto.

Bem, por onde eu posso começar ? Quando eu cheguei aqui, meu corpo demorou pra se acostumar com o calor. Meu coração estava em pedaços. Eu estava em pedaços. Estava tentando encontrar alguma parte de mim que fosse realmente eu. Olhava a minha volta desmanchando em lágrimas todas as cores refletidas pelo sol quente. Foi preciso apenas duas semanas pra me recompor. Rapidamente juntei todos os pedaços e reconheci, feliz, minha solidão. Eu não estava cem por cento, mas eram uns setenta e cinco que valiam muito mais. Era engraçado. Passei de dor de cotovelo à musa Teen. Os jovens se impressionam facilmente. A gente pode ser sempre melhor do que imagina. Finalmente eu estava andando com as próprias pernas. O sol aquecia para além dos corpos. Lembro que numa certa noite, esperava o vinho. Meus amigos calmos, lentos, cheios de umas questões normais. Parecia que esperava a notícia que logo em seguida receberia. Estávamos juntos. Estávamos coexistindo o mesmo lugar. Desta vez não havia mais sol, nem corpos, nem calma. Sai correndo como se minha mãe me mandasse de volta pra casa. Dois dias depois, era o meu coração que estava aquecido. Aquecemos a cama o chão a mesa a rede. Reaquecemos o frio que morava em nós. Agora meus olhos olhavam super saturando tudo que o sol iluminava. Fiquei nessa por todos os outros dias que vieram. Mas as vezes a gente esqueçe que tudo tem sempre uma boa lição. Novamente eu estava em pedaços. Dois socos na cara e um no estômago. Um soco no bolso do meu pai. Um soco no meu trampo. E alguns boletins de ocorrência. Queixas do mundo moderno. Dessa vez, meu coração estava partido pelas queixas do mundo moderno. Cacete de calor! O calor expurga as coisas. As faz desnudas. Escancaradas. Acho que passei no teste. Vida desgraçada. Parecia pouco, mas já era o suficiente.

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